domingo, 26 de setembro de 2010

TÉCNICA PERMITE REÚSO DE ÁGUA DE PROCESSO NA PRODUÇÃO DE ETANOL E AÇÚCAR

A água remanescente da cana-de-açúcar utili­zada no processo de produção de açú­car e etanol pode ser reutilizada na própria usina. Principalmente no pro­cesso de produção de açúcar, em que o produto final é seco, quase toda a sobra de água pode ser reaproveitada. No caso da produção de etanol, em que o caldo deve ser concentrado, a situação é diferente, mas assim mesmo o reaproveitamento de água é possível, de acordo com a professora do Núcleo Interdisciplinar de Pla­nejamento Energético (Nipe) Silvia Azucena Nebra de Pèrez. Um estudo orientado por ela para a dissertação “Uso de Água na Produção de Eta­nol de Cana-de-Açúcar”, de Mauro Francisco Chávez-Rodríguez, na Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (FEM), permitiu, a partir do reciclo, reduzir a captação de água para menos de 1 [m3/ton] de cana-de-açúcar, medida máxima permitida pela legislação para várias regiões do Estado de São Paulo. Em algumas regiões, a capta­ção não pode ultrapassar 0,7 [m3/ton] de água e em outras, como o Vale do Paraíba, o uso de água é proibido.
O trabalho desenvolvido foi parte de um estudo sobre Sustentabilidade na Produção de Etanol encomendado pelo CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (MCT – Mi­nistério da Ciência e Tecnologia) ao Nipe/Unicamp e teve como ob­jetivo avaliar a possibilidade de redução do consumo de água na produção de etanol. A pesquisa de Chávez-Rodríguez focou justamente as várias possibilidades de não só cumprir a lei, mas de também garan­tir a sustentabilidade dos processos.
Entre os importantes resultados da pesquisa está a constatação de que a água retirada da própria cana pode ser reutilizada com segurança. “Quando se produz açúcar e etanol, ocorre a evaporação, e a água sai bastante limpa. Normalmente, ela é facilmente reciclada, por exemplo, na operação de embebição, que é feita logo no co­meço, e na preparação do leite de cal (tratamento feito no caldo que prepara leite de cal para tratar o caldo)”, expli­ca Silvia. Ela lembra que ao carregar a cana para a usina, o caminhão já está carregando muita água, que, se fosse reutilizada, evitaria a necessidade da captação de recursos de outras fontes.
Estudos de “pegada ecológica” – técnica inspirada na “Ecological Footprint” – desenvolvidos por outros autores apresentam um consumo de quase 12 litros de água para a produ­ção de 1 litro de etanol, mas medidas de redução de consumo e de reúso de correntes experimentadas na dissertação permitiram reduzir a 3,6 litros de água por litro de etanol. A pesquisa mostra que, apesar de o uso de água no processo industrial ser o mais alto para o caso do etanol de cana-de-açúcar, o consumo pode ser reduzido drasticamente, alcançando, sem o uso da água da vinhaça, valo­res similares aos apresentados pela gasolina de petróleo convencional.
A “Ecological Footprint” (pegada ecológica) foi utilizada para buscar resultados comparativos entre as produções de etanol de cana-de-açúcar, etanol de milho dos Estados Unidos, gasolina de petróleo dos EUA e gasolina produzida a partir de areias betuminosas, calculando gramas de dióxido de carbono (CO2). Outros testes feitos a partir da avaliação da “Ecological Footprint” desmistificam resultados sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE). O pesquisador observou que o etanol de cana-de-açúcar, seguido pelo etanol de milho, é o responsável pelas menores emis­sões de GEE. Também em relação ao milho, os testes apontam o etanol de cana-de-açúcar como sendo mais favorável para a economia de água, segundo Silvia, pois além de reque­rer muita água na produção, o etanol de milho utiliza combustível fóssil em maior escala na sua produção.
Ao introduzir o conceito de Água-CO2, no qual o sequestro de CO2 é feito por florestas, os pesquisadores conseguiram quantificar como a terra consumiria recursos de água para neutralizar o gás carbônico. Incor­porando este conceito, o pesquisador constatou que a produção e o uso da gasolina e de combustíveis fósseis consumiriam indiretamente em mé­dia tanta água quanto a produção de etanol de cana-de-açúcar. O melhor resultado para a análise do índice de “footprint”, na opinião de Silvia, é mostrado também para o etanol de cana-de-açúcar, seguido pela gasolina produzida de petróleo convencional.
O conceito de Água- CO2 baseia-se na ideia que, para absorver o CO2 liberado na queima da gasolina, é necessário plantar uma quantidade de árvores equivalente a um bosque, que no seu crescimento absorverá este gás. “A grande vantagem do etanol é que quando você o queima, ele também produz CO2, mas depois tem uma cana nascendo que pega esse CO2 e retorna ao ciclo, fecha-o. Já a gasolina não tem isso”, acrescenta. Já que a quantidade de água necessária para que o bosque cresça também seria grande, a situação do etanol ainda é a melhor, de acordo com a pesquisa.
Diante das evidências da susten­tabilidade do etanol em relação ao uso da terra e da água, o pesquisador, segundo Silvia, sugere que novas ter­ras projetadas para biocombustíveis com clima e taxas de chuva adequa­das para o cultivo da cana deveriam priorizar o cultivo desta cultura.
Para Chavez-Rodríguez, a maior vantagem do conceito da pegada ecológica é que ela exibe uma ideia clara da mensagem da demanda de biocapacidade do padrão de pro­dução em uma forma didática. A técnica mede a quantidade de área de terra que se requer para produzir todos os recursos que um indivíduo, uma população, ou uma atividade consome, considerando também a absorção de resíduos que isto gera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário