quarta-feira, 7 de outubro de 2009

TANQUE DE ETANOL. INSPEÇÃO PERIÓDICA GARANTE INTEGRIDADE.

 créditos foto: CETEC
Após dois solavancos positivos de mercado, um com a era do Proálcool, nos anos 80 e recentemente, devido a aumentos consecutivos do petróleo, o etanol e o biodiesel ressurgiram como palavra de ordem em contraponto aos altos preços do barril, e como alternativa de um combustível limpo e renovado. O apelo surtiu grande efeito, pois temos tecnologia desenvolvida e em desenvolvimento, ao longo dos últimos 30 anos, no campo e na indústria. Com incentivos e injeção de novos financiamentos, o setor alavancou novamente neste terceiro milênio, com aumento de área plantada e da produção industrial quase triplicada. Nestas condições, todas as usinas que não operavam com sua capacidade total de produção e, portanto, possuíam um parque de estocagem de álcool superestimado, com tanques de álcool em hibernação, rapidamente os colocaram em linha de estoque. Portanto, toda tancagem existente foi reativada a sua capacidade máxima, e em novas unidades. Novos tanques foram instalados para atender a produção, e os existentes, ora hibernados, rapidamente tornaram-se proativados e, possivelmente sem passagem por inspeção criteriosa que pudesse comprovar suas condições de continuidade de utilização.

Mas a pergunta que ainda fica é: O que existe em termos de Normas, Procedimentos e Norma regulamentadora, que substancialmente possa ser aplicado para que atitudes coerentes, com efeito a uma inspeção completa, atendendo os quesitos de inspeção periódica, segurança, meio ambiente, manutenção, confiabilidade e credibilidade que garantam integridade ao parque de tanques? Uma pergunta que nos leva a muitas indagações e várias respostas, afinal, o Brasil possui um parque de tancagem, que pela conhecida “Curva de Falha por Tempo ou Curva da Banheira”, está situado em sua maioria, na faixa da curva de desgaste ou envelhecimento do gráfico, e assim com vida remanescente bastante reduzida. Esta curva, definida pela distribuição de falhas por utilização, nos ajuda a entender a probabilidade da falha de um conjunto ou componente ao longo de sua vida normal. Como a curva de tendência, na região de falha, é sempre crescente, em função do tempo, e está na área da vida remanescente, conhecida também por região de taxa de falha crescente (veja Gráfico 1 - Curva da Banheira), estamos, portanto em área de grande probabilidade de ocorrência de falhas e riscos de qualquer monta. Seria então necessário que houvesse uma ingerência, antes dessa etapa, ou seja, na chamada região de vida normal, para que numa inspeção de maior confiabilidade, atitudes pudessem ser avaliadas e tomadas, para garantir em termos de segurança, relacionado à operacionalidade e o meio ambiente.
É importante ressaltar que há modificações no gráfico quando em suas etapas não são observados algumas condições, façamos uma pequena análise:

Gráfico 1 – Curva da Banheira e ciclo de vida – Fonte: Lafraia (2001)

a) A 1ª etapa da curva, conhecida como Mortalidade infantil, seria compensada por redução da taxa de falhas e com ganho significativo de sua vida normal, se houvesse avaliação nos processos de projeto, fabricação e montagem de tanques, bem como de seus acessórios. Cada processo com suas peculiaridades e pontos específicos a serem observados por inspetor e engenheiros experientes. Uma análise apurada nestes processos não só aumentaria substancialmente o ciclo da vida normal, devido a sua rastreabilidade, como modificaria as condições de vida remanescente dos tanques, evitando muitas vezes o que vem ocorrendo em alguns parques de tanques, onde a possibilidade de recapacitação (reformas no local), têm aceitabilidade em alguns casos, porém, com alto grau de ocorrência de risco.
b) Na 2ª etapa, conhecida como Vida Normal, interferências externas modificam indiretamente a tendência da curva constante ao longo do tempo; tais como:
b1) Falhas operacionais (erros e ou ausência de procedimentos, falta de treinamento de operação e segurança); b2) Falhas por falta de redundância em equipamentos de segurança (ausência de válvulas de pressão e vácuo, não observância dos procedimentos de manutenção destas válvulas - lembrando que pequenas pressões de vácuo em determinadas circunstâncias são altamente implosivas -, ausência de medidores de nível automatizados); b3) Falhas por falta de manutenção ou manutenção equivocada (ausência ou procedimentos de manobras não observados, ausência de procedimentos para tanques em hibernação); b4) Falhas por falta de execução prevista em inspeções anteriores ou mesmo por inspeções mal realizadas que em muitas vezes acabam por condenar o tanque; b5) Falhas do projeto de fundação (não aplicação das normas de fundação para tanques, não observância ou inexistência de recalques máximos medidos após o teste hidrostático) e; b6) Falhas por projeto subestimado da rede de aterramento (malhas de aterramento não normalizadas, e inexistência de redundância na rede de aterramento).
Nesta etapa não existe controle direto sobre falhas e ocorrências, mas existe o conhecimento de que elas possam ocorrer, sendo assim, ações devem ser tomadas, para abordagem de atitudes corretivas, preventivas ou mistas.
c) A 3ª etapa, conhecida por Desgaste ou Envelhecimento, onde podemos incluir principalmente a corrosão detectada por diminuição significativa de membrana, ocasionada por: c1) Tempo de hibernação muito longo do tanque (ataque corrosivo acentuado como agente delimitador de vida remanescente); c2) Fatores climáticos externos que aceleram o processo corrosivo; c3) Falta de película de tinta de base (inexistência de camada base de tinta protetora antes e durante o processo construtivo devido a inobservância de algumas Normas); c4) Tintas de acabamento composta por aditivos não adequados e; c5) Falhas de fadiga (tensões acumulativas ou geradas por desnivelamentos diversos).
Como podemos observar, são inúmeros os fatores que atuam ou podem surgir, mas Normas e Portarias existem para consulta e aplicação em parque de tanques de álcool, onde podemos citar algumas para consultas, até em redundância, tais como as Normas da ABNT através das NBR’s 7505-1/2/3/4/5/6/7:2006; 7821 e 5418; a American Petroleum Institute” - API’s 620, 650, 653 e 2000; as “National Fire Protection Association” – NFPA’s 11, 15, 20 e 30; “The American Society of Mechanical Engineers“ – ASME, Boiler and pressure vessel code, vasos de pressão não sujeitos a chama, section VIII, division I; a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP Nº 1.057/2006 e Portaria ANP Nº 104 de 29/6/2000 e Nº 206, de 9/9/2004; consulte também o Corpo de Bombeiros - Instrução Técnica Nº 27 de 2004; e a título de orientação e informação algumas Normas Internas da Petrobras, entre elas a “Inspeção de Tanque de Armazenamento Atmosférico”, valendo lembrar que às Petrobras, tem restrição de utilização e citação devido aos termos de sigilo de confidencialidade e ao direito intelectual de propriedade industrial.
Porém, um vácuo ainda reside na falta de uma Norma regulamentadora, em termos de inspeção periódica, direcionada a parque de tanques de álcool (como exemplo a NR-13 que ampara assuntos referentes a inspeções de caldeiras e equipamentos de processo), aliviando assim departamentos de Gerência da área de Estocagem bem como os de Segurança, que em função disso, possuem movimentação de atitude restrita com relação a um bom planejamento de inspeções. Devemos lembrar que inspeções preventivas devem ser relevadas, pois é boa prática, principalmente se levarmos em consideração custos referentes ao próprio tanque, produto estocado, lucros cessantes, seguro, meio ambiente, imagem da Empresa, e o mais importante, a vida humana. Atos de responsabilidade, direcionados por Empresa inspetora idônea, aliados a Normas, Norma regulamentadora e boas práticas de inspeção vão gerar integridade ao parque de tanques de etanol.


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