quarta-feira, 10 de novembro de 2010

QUÍMICA VERDE

Cinco pesquisadores contratados por uma empresa. Essa foi a boa experiência vivida dentro do grupo do professor Gonçalo Guimarães Pereira, do Departamento de Genética, Evolução e Bioquímica do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Foram duas pós-doutorandas, dois doutorandos e um mestre que passaram a ser funcionários da Braskem, empresa brasileira que é a oitava petroquímica do mundo e quer adotar uma produção sustentável, com produtos, no caso insumos para a indústria de plásticos, fabricados pela via da biotecnologia utilizando fontes renováveis, principalmente cana-de-açúcar, e microrganismos.
“De repente fiquei sem alunos”, brincou Pereira, que coordena o projeto “Rotas verdes para o propeno”, do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP, realizado por sua equipe e pela Braskem com investimento total de R$ 8 milhões, sendo a metade da Fundação. “Tivemos bons resultados ao longo de três anos e produzimos duas patentes. Mas nosso papel na universidade não é produzir tecnologia, é fazer ciência alinhada com a tecnologia futura.”  Ele explica que a empresa queria ser líder em uma tecnologia desconhecida e ela foi buscar conhecimentos novos na universidade, onde a missão é de ter ideias e liberdade criativa. Para viabilizar as soluções encontradas no projeto PITE, que ainda não podem ser reveladas, a Braskem fez um acordo com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), um dos três laboratórios associados do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), junto com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o Centro de Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas, no interior paulista. O convênio assinado com o LNBio prevê o estabelecimento da Plataforma Biotecnológica Braskem, num espaço alugado pela empresa dentro da instituição.
“Com isso, a empresa se vale da instrumentação e do conhecimento dos nossos pesquisadores em áreas da biologia molecular e estrutural, importantes para o aprofundamento científico necessário no atual estágio do projeto”, disse o professor Kleber Franchini, diretor do LNBio, entidade que atende a comunidade acadêmica, além de demandas pontuais de empresas.
“O laboratório Braskem estabelecido no LNBio é um ambiente entre o caos da universidade e a rigidez da empresa para que a tecnologia possa, junto com os nossos ex-alunos recém-contratados, amadurecer antes de ser incorporada pela companhia”, disse Pereira.
Os cinco alunos contratados pela Braskem que vão trabalhar no LNBio são as pós-doutorandas Joahana Rincones Perez e Inês Lunardi, os doutorandos Maria Carolina de Barros Grassi e Lucas Pedersen Parizzi e o mestre Felipe Galzerani. Todos tiveram bolsa da Braskem. A perspectiva é que o número de pesquisadores cresça.

Saiba mais sobre o Laboratório Nacional de Biociências AQUI
“Queremos dentro de dois ou três anos, conforme o avanço das pesquisas, ter 40 pesquisadores da Braskem dentro do LNBio. Não tínhamos na empresa competência em biotecnologia e a maneira de obtê-la foi fazer a parceria com a Unicamp e a FAPESP”, disse Antônio Queiroz, diretor de tecnologia da empresa.
Em sinergia com o trabalho desenvolvido, a Braskem firmou um convênio com a Novozymes, multinacional dinamarquesa que desenvolve enzimas para processos industriais. 

 
Leia mais sobre a NOVOZYMES AQUI
A Braskem, que inaugurou recentemente no Rio Grande do Sul uma fábrica de eteno derivado de etanol, matéria-prima para a fabricação de um tipo de plástico de largo uso, o polietileno, como em brinquedos e utilidades domésticas, quer investir cada vez mais em química de matéria-prima renovável.


Leia mais sobre a produção de plástico verde a partir do etanol AQUI
“Agora estamos investindo nas rotas biotecnológicas. Queremos ser a empresa líder no mundo em química sustentável tanto em produtos renováveis como em produtos petroquímicos [origem das matérias-primas para plásticos] que na produção consumam menos água, energia e emitam menos CO2 ou ainda que ajudem a capturar esse gás da atmosfera”, disse Queiroz.   Segundo ele, para atingir esse patamar é preciso profissionais bem formados nessa área. “O aspecto de maior valor da parceria com a Unicamp e a FAPESP foi a formação de recursos humanos. Esse processo mostra que estamos diante de um novo modelo de interação universidade-empresa para geração de tecnologia e contratações de nível qualificado. Sabemos que no mundo a maior parte das pesquisas é feita nas empresas, mas não dá para a empresa surgir do nada. Mesmo em países como os Estados Unidos, é preciso começar na universidade com ideias inovadoras”, disse.
Fonte: Portal FAPESP - Marcos de Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário