segunda-feira, 17 de outubro de 2011

TANQUES DE ETANOL - PARTE 4

Danos em tanques, oriundos da pressão interna negativa (vácuo).
Armazenamento de etanol
IN- Quais são as novidades tecnológicas no que diz respeito a tanques de armazenamento de etanol?
PD- Nota-se que há uma maior preocupação, por parte dos fabricantes, em procurar atender as normas de fabricação e assessórios e utilizar normas e procedimentos padrões internacionais; porem, entendo que a montagem do tanque deveria ser de corresponsabilidade do fabricante;  havendo terceirização da montagem, principalmente para tanques de grandes dimensões feitas no campo, seria de suma importância que fabricantes tivesses suas montadoras certificadas, garantindo assim o atendimento na montagem, dos mesmos requisitos e critérios dos padrões das normas utilizados no dimensionamento e fabricação.  Certamente, uma supervisão do fabricante durante a montagem arremataria a integridade e a garantia na entrega final.
Outras novidades estão nas medições de nível e das tecnologias de (VAPV’s), válvulas de alívio de pressão e vácuo, com sobrepressões em 10%, ou seja, tecnologia que garante uma abertura mais próxima da PMTA’s (Pressão Máxima de Trabalho Admissível) do tanque. Com sobrepressão em 10%, reduz de modo significativo a diminuição das aberturas destas válvulas e evita-se emissões para a atmosfera e consequente perdas por evaporação do etanol. Já para os elementos (CC’s) corta-chamas, esse mesmo fabricante possui certificado para a classe de explosividade de fluidos que atende o etanol. Sempre lembrando que as usinas devem exigir destes fornecedores as certificações por terceira parte de entidades reconhecidas internacionalmente, e que seguem os requisitos da EN-12874 e ISO-28300.
IN- Que problemas são comuns no que diz respeito à instalação de tanques ou conjunto de tanques deste tipo?
PD-Decisões corretas quanto ao volume ideal dos tanques, relacionados ao tamanho físico da área do parque de tanques. Falta de informação técnica, de algumas usinas, para que possa solicitar, do fabricante e montadora, o atendimento a todos os padrões de cumprimento e solicitação às normas. Aplicação e adequação das matrizes de segurança, incluindo estudos de redundância. Atendimento legal aos aspectos do meio ambiente, oriundo das emanações atmosféricas. Apesar do empenho dos departamentos de segurança, engenharia e manutenção da área, ainda há uma cultura que impede avanços com relação a determinadas soluções e solicitações; mesmo assim, progressos estão sendo sentidos.
IN- Como prevenir acidentes? Eles são comuns? Por quê?
PD-Acidentes com tanques de armazenamento têm ocorrido com frequência em todos os setores de parque de tanques que geram vapores explosivos, no mundo todo. Especificamente aqui no Brasil, em função do aumento da capacidade da área de estocagem de etanol, houve um acréscimo no número de tanques novos instalados e reativação de antigos tanques em estado de hibernação. Necessariamente, acidentes não ocorrem em função desta última situação, haja vista, a ocorrência com tanques novos recentemente instalados. Com relação aos tanques, antes em hibernação, uma inspeção inicial detalhada, que nortearia para futuras inspeções periódicas, certamente influenciaria nos aspectos da segurança, pois estes muitas vezes em fase final de vida útil acabam reativados sem os devidos critérios. Esta é uma das grandes dificuldades que as engenharias, responsáveis pelo setor, vêm enfrentando.  Em tanques com vida útil diminuída, devido à falta de critérios de manutenção e inspeções periódicas ou mesmo tanques em sua fase de envelhecimento, sempre há de se levar em critério os aspectos relativos à redundância quanto a segurança.
Além dos citados, outro ponto relacionado a acidentes, são os gerados por elementos de fenômenos naturais, como descargas elétricas (raios), eletricidade estática, faíscas mecânicas ou originadas por ultrassom, e influências climáticas ocasionadas por resfriamento repentino (sol forte, com resfriamento brusco ocasionado por chuvas de verão).
Alguns acidentes tem danos materiais, outros infelizmente subtraído vidas humanas, sempre irreparáveis.
IN- Quais são os investimentos em segurança que a usina precisa tomar para garantir a continuidade do negócio, evitando ainda prejuízos humanos, materiais e ambientais?
PD-Segurança é um aspecto que sempre deve ser considerado, mesmo que se tenha redundância na planta. Deve ser revisto todos os procedimentos de manutenção, procedimentos de inspeção, dar treinamento operacional técnico e treinamentos de brigadas. Investir no parque, pois por mais que se venha levantar custos relacionados à segurança, tanto de pessoas como de equipamentos ou mesmo custos de manutenção e inspeção, estes estarão, por mais custosos que possam parecer, com valores próximos de 0,7 @ 1,0 [%.1095-1anos], o que é algo relativamente baixo, comparado ao custo de uma acidente evitado, que em ocorrência  terá custos financeiros altíssimos, sem contar o prejuízo por vidas ceifadas, lucro cessante, multas, processos e imagem da empresa, valores estes que se considerados estariam acima de uma faixa média inicial de 300 [%] do custo do tanque acidentado.
IN- Existe essa atenção da parte das usinas?
PD-Infelizmente somente àquelas que passaram por acidentes tem uma atenção maior dispensada ao seu parque de tanques. O que muitas pessoas ainda pensam, e se equivocam, é a periculosidade do etanol, por exemplo no conceito de inflamabilidade, se comparado a gasolina. O etanol é muito mais perigoso, pois mesmo a gasolina tendo um limite inferior de explosividade menor que o etanol, a faixa de explosividade do etanol é 2,6 vezes maior que a da gasolina. Seu (PF) ponto de fulgor, que é a menor temperatura que um líquido combustível ou inflamável libera uma quantidade de vapor suficiente para formar uma mistura inflamável com o ar, perto da superfície, e propague uma chama a partir de uma fonte de ignição, é de 13 [°C], ou seja, se a temperatura ambiente numa determinada região estiver, em 25 [°C] e ocorrer um vazamento do produto ou de gases, com o ponto de fulgor do etanol em 13 [°C], significa que o produto nessas condições está liberando vapores inflamáveis suficientes, para que, bastando apenas uma fonte de ignição haja inicio de ocorrência de uma deflagração .Portanto, o etanol, em qualquer parte do Brasil, está sempre dentro da faixa de explosividade na temperatura ambiente.
Pensando neste aspecto, já seria um ponto para as usinas se atentarem com mais cautela nos aspectos relacionados à segurança, pois como podemos perceber, uma quantidade grande de fatores de risco devem sempre ser consideradas.
IN-É possível aumentar a segurança de tanques de etanol antigos? Como?
PD-Aspectos relacionados a segurança não devem passar pelo tempo de vida útil de um tanque, se assim fosse, tanques novos não deveriam sofrer acidentes, o que não é verdade, pois a quantidade de redundâncias da segurança não passa por este critério, mas se consideramos que tanques antigos, hoje tem em torno de 25 anos ou mais, que não foram submetidos aos critérios de padrões das normas vigentes bem como dos órgãos inspetores de alvará (bombeiros, CETESB), devem ter sua atenção neles concentrada e, se possível, dentro da visão de uma engenharia reversa, pois muitos deles não possuem qualquer tipo de documentação comprobatória para rastreabilidade, para que possam ser repotencializados, isto é, tenham uma base de dados, estudos, recálculos de pressões, tensões mínimas atuantes, esforços críticos atuantes, o bastante suficiente para medir sua vida útil remanescente, e direcionar investimentos na área, para melhorias.  Mesmo no caso de haver documentação, uma análise detalhada vai direcionar a procedimentos de segurança. É importante ter um entendimento de que não há um procedimento de inspeção padrão, para executar uma análise deste tipo, pois fatores inerentes ao tanque, poderão levar a alguns tipos de ensaios com laudo de análise e por diferentes procedimentos, para que se possa estabelecer uma vida remanescente útil e garantir que o mesmo possa continuar sua operação, sempre em atendimento aos aspectos da segurança.
IN- Qual é a importância da inspeção dos tanques?
PD-Garantir as condições operacionais e de segurança. Determinar prazos para futuras inspeções. Alimentar através de informações o pessoal de manutenção, para corrigir desvios e certificar outras. Levantar parâmetros de melhorias ou possíveis danos ocorridos durante o período em que a última inspeção determinou. Estabelecer as condições operacionais e indicar danos ocorridos. Poder determinar, através de uma análise crítica de inspeção, seja visual, END’s e de procedimentos para estabelecer critérios que direcionem, por exemplo, a novos prazos de inspeção, entre outros critérios. Indicar acessórios que aumentem a redundância na segurança. Alertar sobre a atualização de normas. Oferecer um benchmarking com tecnologias empregadas em outros parques de tanque de outras usinas, entre outros aspectos.
IN- Como é feito uma inspeção adequada?
PD-É importante conhecimento de normas de inspeção e ensaios, além das específicas para tanques e alguns anos dedicados na área. Ouvir operadores e entender os procedimentos operacionais. Passar informações adquiridas ao pessoal da segurança e da engenharia do setor. Ouvir as informações adquiridas do pessoal da segurança e da engenharia do setor. Discutir melhorias de aspecto de segurança resultantes da inspeção. Envolver o pessoal responsável pela área, no comprometimento da inspeção. Executar relatórios que contenham laudos conclusivos e ensaios se necessário, auxiliares da inspeção. Alguns relatórios com recheios de ensaios de ponta e alguns com tecnologia recente tem custo alto e muitas vezes seu resultado de aproveitamento fica abaixo do esperado e resultam em conclusões não determinantes. Deve ser premissa do inspetor em não ser um “vendedor” de ensaios, destrutivos ou não; portanto, critério e bom senso ao solicitar ensaios, pois estes são feitos para auxiliar a inspeção, onde a recíproca não é verdadeira. Inspeções devem retornar com resultados que direcionam a uma ou várias soluções e deem suporte aos departamentos de engenharia, segurança e manutenção.
Continuação de TANQUES DE ETANOL – PARTE 3
Entrevista à revista IDEA NEWS – NUMERO 125/03/2011 Pag. 24@29

Nenhum comentário:

Postar um comentário